Exercício Físico e Saúde Mental

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Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) indicam que quase 1 bilhão de pessoas vivem com transtorno mental, 3 milhões de pessoas morrem todos os anos devido ao uso nocivo do álcool e uma pessoa morre a cada 40 segundos por suicídio. E agora, bilhões de pessoas em todo o mundo foram afetadas pela pandemia da COVID-19, que está causando um impacto adicional na saúde mental. O isolamento social pode gerar ou agravar quadros depressivos e de ansiedade. Estudos apontam que os casos de depressão e ansiedade praticamente dobraram desde o ínicio da pandemia.

A depressão atinge mais de 300 milhões de pessoas no mundo. A doença aumenta o risco de desenvolver diabetes, hipertensão e outras doenças cardiovasculares. Com mais de 12 milhões de pessoas com depressão, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o país da América Latina com o maior contingente de indivíduos sofrendo de depressão e o maior do mundo em ansiedade. Inúmeras pesquisas têm reportado que o número de pessoas que tem a doença deve aumentar globalmente após a quarentena.
Além de alterações psicossociais, a prática de exercícios físicos promove modificações neurofisiológicas e neurobiológicas associadas à saúde mental. Muito se discute sobre os efeitos do exercício físico na fisiologia, biologia e anatomia nos sistemas cardiovascular, respiratório e musculoesquelético, no entanto, os benefícios do exercício físico na saúde mental ainda precisam de mais entendimento e investimento.

Benefícios do Treinamento de Força
Os exercícios proporcionam benefícios tanto no aspecto social, quanto no biológico, diminuindo substâncias inflamatórias e aumentando a produção de neurotransmissores. É importante ressaltar que a aderência é fundamental.  Portanto, o profissional deve escolher modalidades/exercícios que despertem prazer nos seus alunos. Mesmo em tempos de isolamento é necessário incentivar a prática de exercícios, pois todos os benefícios também se estendem aos programas realizados ao ar livre ou em casa.

Recentemente, Marques e colaboradores (2020) realizaram um estudo com o objetivo de revisar sistematicamente a relação entre força muscular e sintomas de depressão entre adultos. Um total de 21 estudos foram incluídos na revisão sistemática, totalizando 87.508 adultos com idade maior que 18 anos, residentes de 26 países. Os autores demonstraram que a força muscular foi inversa e significativamente relacionada aos sintomas de depressão entre adultos e adultos mais velhos. O estudo sugere que tal fato pode ser parcialmente explicado não só pelo aumento dos níveis de atividade física, mas também pelas associações entre aptidão muscular e limitações e deficiências funcionais, bem como fragilidade e qualidade relacionada à saúde de vida, que por sua vez estão relacionados aos sintomas de depressão.

Moraes e colaboradores (2019) conduziram um ensaio clínico randomizado controlado com o objetivo de comparar os efeitos do treinamento aeróbio, treinamento de força e exercícios de baixa intensidade (grupo controle) como tratamentos adjuvantes à farmacoterapia para transtorno depressivo maior em idosos. Após três meses de intervenção foram observadas melhorias semelhantes nos grupos que realizaram treinamento de força e aeróbio com intensidade moderada, enquanto nenhuma resposta foi observada para o grupo controle, que realizou o exercício de baixa intensidade. Em conclusão, os autores sugerem que tanto o treinamento de força quanto o aeróbio combinado com o tratamento farmacológico, podem contribuir para melhorar a resposta ao tratamento do transtorno depressivo maior em idosos.

Em 2018, Gordon e colaboradores analisaram 33 ensaios clínicos (cerca de 2.000 participantes) que investigaram os efeitos do treinamento de força em sintomas de depressão. O estudo demonstrou que independentemente da idade, sexo ou estado de saúde, a prática do treinamento de força melhorou alguns sintomas da doença, como mau humor, a perda de interesse em participar de atividades variadas e os sentimentos de inutilidade. Ainda não temos diretrizes específicas no que tange à prescrição de exercícios com objetivo de promoção da saúde mental. Entretanto, rotinas supervisionadas de até 45 minutos, realizadas com a frequência de duas a três vezes por semana, de treinamento de força, aeróbio ou combinados, se mostraram muito eficientes. Assim, profissionais de saúde poderiam incluir a prescrição de exercícios como estratégia para promover saúde mental e prevenir a depressão, principalmente em tempos de isolamentos social.

Vários tipos de exercícios são capazes de melhorar a depressão, tanto por efeitos neurofisiológicos, quanto por aspectos emocionais e sociais. Além dos exercícios aeróbios e de força, as atividade mente-corpo, as quais atuam no mindfulness, bodyfulness, exercícios respiratórios, aterramento, relaxamento também são peças importantíssimas para a prevenção e o tratamento da doença (Miller e col. 2020). E podem ser facilmente incluídos numa sessão de exercícios.  


Referências:

  • World Health Organization. Depression and Other Common Mental Disorders: Global Health Estimates, 2017. https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/254610/WHO-MSD-MER-2017.2-eng.pdf
    Klil-Drori S, Klil-Drori AJ, Pira S, Rej S. Exercise Intervention for Late-Life Depression: A Meta-Analysis. J Clin Psychiatry. 2020 Jan 21;81(1):19r12877. doi: 10.4088/JCP.19r12877. PMID: 31967748.
    https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/31967748/
  • Gordon BR, McDowell CP, Hallgren M, Meyer JD, Lyons M, Herring MP. Association of Efficacy of Resistance Exercise Training With Depressive Symptoms: Meta-analysis and Meta-regression Analysis of Randomized Clinical Trials. JAMA Psychiatry. 2018 Jun 1;75(6):566-576. doi: 10.1001/jamapsychiatry.2018.0572.
    https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6137526/
  • Moraes HS, Silveira HS, Oliveira NA, Matta Mello Portugal E, Araújo NB, Vasques PE, Bergland A, Santos TM, Engedal K, Coutinho ES, Schuch FB, Laks J, Deslandes AC. Is Strength Training as Effective as Aerobic Training for Depression in Older Adults? A Randomized Controlled Trial. Neuropsychobiology. 2020;79(2):141-149. doi: 10.1159/000503750.
    https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/31658460/
  • Marques A, Gomez-Baya D, Peralta M, Frasquilho D, Santos T, Martins J, Ferrari G, Gaspar de Matos M. The Effect of Muscular Strength on Depression Symptoms in Adults: A Systematic Review and Meta-Analysis. Int J Environ Res Public Health. 2020 Aug 6;17(16):5674. doi:10.3390/ijerph17165674.
    https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7460504/
  • Miller KJ, Gonçalves-Bradley DC, Areerob P, Hennessy D, Mesagno C, Grace F. Comparative effectiveness of three exercise types to treat clinical depression in older adults: A systematic review and network meta-analysis of randomised controlled trials. Ageing Res Rev. 2020 Mar;58:100999. doi: 10.1016/j.arr.2019.100999. Epub 2019 Dec 11.
    https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/31837462/

Ingrid Dias
Ingrid Dias

Pesquisadora | Professora | Palestrante

Profa. Dra. Helena Moraes
Profa. Dra. Helena Moraes

Doutora em Saúde Mental | Professora e Pesquisadora LaNex-UFRJ

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