Grupos Especiais

Musculação e treinamento de Força

Podemos classificar como Grupos Especiais, indivíduos que possuem condições e necessidades específicas limitantes ou não (ex: hipertensos, obesos, diabéticos, entre outros), ou que estejam em fases da vida que demandam cuidados e atenção especial (ex: adolescentes, gestantes, pós-parto, idosos, entre outros).

A prática do treinamento de força tem mostrado efeitos positivos na redução do risco de várias doenças crônicas e, além disso, é considerado o método mais efetivo para aumentar a força, a massa muscular e a massa óssea.

Somando-se a isso, entidades científicas como American College of Sports Medicine, American Heart Associon, American Diabetes Association, American College of Obstetrician and Gynecologists têm reportado ainda mais benefícios para a saúde, como: a diminuição dos fatores de riscos associados a doenças coronarianas, diabetes não dependentes de insulina e câncer de colo, além de prevenir osteoporose, auxiliar a perda de peso, melhorar a estabilidade dinâmica e preservar a capacidade funcional de Grupos Especiais.

Para que os benefícios supracitados sejam alcançados com segurança e eficácia, a prescrição e a progressão de qualquer tipo de treinamento para Grupos Especiais demanda muito conhecimento e cuidados específicos para cada população!

“O custo do cuidado é sempre menor do que o custo do reparo.”

Benefícios do Treinamento de Força / Musculação para Grupos Especiais

Os adolescentes necessitam de um nível mínimo de força para construir um corpo com uma base sólida para um desenvolvimento e crescimento adequados, em conjunto com um estilo de vida ativo e saudável (Faigenbaum et al., 2015).

Dentre os principais benefícios destacam-se:

  • A redução do risco de lesões;
  • Melhora das aptidão física;
  • Redução da massa gorda;
  • Aumento da massa magra;
  • Aumento da massa óssea;
  • Melhora do padrão motor;
  • Efeitos positivos na saúde e no bem estar;
  • Melhora da autoestima e, principalmente, a construção do hábito de realizar exercícios.

 

A prescrição do Treinamento de Força para adolescentes deve se basear nos princípios básicos do treinamento, destacando a especificidade, a sobrecarga e a individualidade biológica, para assim atender as demandas e necessidades de cada indivíduo.

Vale destacar que de uma maneira geral, o Treinamento de Força para adolescentes deve ser utilizado para criar uma base adequada para posteriores treinamentos/atividades (Peitz et al., 2018).

Além dos benefícios relacionados ao condicionamento físico, o Treinamento de Força também é uma intervenção valiosa para redução de fatores de risco cardiovascular e metabólicos em adolescentes com obesidade.

Em um artigo publicado durante o Doutorado da Prof. Ingrid Dias (Dias et al., 2015) observamos que o Treinamento de Força, realizado sob a forma de circuito, resultou em benefícios metabólicos e hemodinâmicas, na função endotelial, na modulação autonômica, na composição corporal e no condicionamento físico de adolescentes obesos, independente de alterações no peso corporal, além de reduzir a incidência de síndrome metabólica nos adolescentes obesos.

Contudo, apesar dos inúmeros benefícios citados, são necessários alguns cuidados, principalmente, com o controle de carga e a técnica de execução, pois estamos falando de indivíduos em fase de maturação e aprendizado motor.

A gestação é caracterizada por alterações fisiológicas e hormonais que se manifestam devido às necessidades funcionais e metabólicas do organismo.

Tais alterações se iniciam desde o primeiro dia da gestação e se intensificam até o parto.

De maneira geral, as modificações que acontecem no corpo da mulher visam promover condições para um desenvolvimento fetal adequado.

Entretanto, algumas modificações, ainda que fisiológicas, podem causar situações de dor e desconforto.

O exercício físico tem sido proposto como medida preventiva e/ou terapêutica para reduzir as complicações e melhorar a saúde materno-fetal (ACOG, 2015).

O principal benefício do Treinamento de Força para gestantes é minimizar os desconfortos das alterações posturais, contribuindo para a prevenção de quedas, bem como para a prevenção e o tratamento de dores, desconfortos e lesões musculoesqueléticos.

De acordo com as recomendações atuais para prescrição de exercícios na gestação da Sociedade Canadense 2019 (Mottola et al., 2018): toda gestante, na ausência de contraindicações, deve incorporar ao seu treino uma variedade de exercícios aeróbios e de resistência/fortalecimento.

Apesar do respaldo positivo da literatura, alguns cuidados relacionados principalmente à intensidade e a seleção dos exercícios devem ser considerados e adaptados a cada trimestre.

A hipertensão pode ser definida como um aumento patológico e crônico dos níveis normais da pressão arterial.

Esta condição está relacionada à diversas alterações morfológicas, funcionais, endócrinas e metabólicas que afetam os diferentes sistemas (Hall et al., 2012).

Tais alterações podem desencadear vários eventos cardiovasculares, como o acidente vascular cerebral hemorrágico e isquêmico, infarto do miocárdio, morte súbita, doença arterial periférica, além de doença renal.

Outros fatores influenciam o risco cardiovascular em indivíduos hipertensos, como: sexo, idade, tabagismo, taxa de colesterol, diabetes, obesidade, histórico familiar de morte prematura por doenças cardiovasculares, sedentarismo, entre outros (Williams et al., 2018).

Na maioria dos casos, a hipertensão é resultante do excesso de gordura corporal e do sedentarismo, que assim como a obesidade, é considerado um fator de risco independente para doença cardiovascular.

Desde 2004, o Treinamento de Força tem sido recomendado como parte integrante de programas de treinamento com a finalidade de reduzir riscos cardiovasculares, dentre eles a Hipertensão Arterial (ACSM, 2004).

Considerando os benefícios do Treinamento de Força para hipertensos, é possível destacar: a redução da pressão arterial, melhora da função vascular e microcirculação, redução de marcadores inflamatórios, melhora do balanço simpatovagal, melhora da sensibilidade à insulina, entre outros (Dias et al., 2015).

Variáveis metodológicas como sobrecarga ou intensidade, duração e volume de treinamento, ordem dos exercícios, tempo de intervalo entre as séries, exercícios e sessões, número de séries e repetições, frequência semanal e velocidade de movimento estão envolvidas na elaboração de um programa de ER e, podem desencadear diferentes respostas fisiológicas durante a realização do TF, tendo impacto direto na segurança cardiovascular no decorrer do treinamento.

Diante do exposto, o Treinamento de Força deve fazer parte de um programa de treinamento para hipertensos, desde que seja prescrito e supervisionado por profissionais qualificados.

A obesidade tem assumido proporções epidêmicas em vários países no mundo, incluindo o Brasil, no qual também tem sido considerada como grande um problema de saúde pública.

Na etiologia dessa doença encontram-se fatores, cujas origens podem estar vinculadas a características genéticas, nutricionais, endócrinas, hipotalâmicas, farmacológicas, ambientais e comportamentais (principalmente a inatividade física), que se inter-relacionam e se potencializam mutuamente (Mancini et al., 2015).

Atualmente, o tecido adiposo tem sido reconhecido como um órgão multifuncional, produtor e secretor de vários peptídeos e proteínas bioativas, denominadas adipocitocinas, que estão envolvidas na inflamação e na resposta do sistema imune, participando da regulação de diversos processos como a função endotelial, aterogênese, sensibilidade à insulina e regulação do balanço energético (Ouchi, 2016).

Os exercícios físicos são recomendados como componente indispensável de um programa para controle, redução e prevenção do ganho de massa corporal (ACSM, 2009).

Embora as diretrizes ainda apontem o Treinamento de Força como coadjuvante no processo de emagrecimento, cabe ressaltar que os cuidados com esses indivíduos devem ser pensados para além da “balança”.

Além da importância relacionada ao condicionamento físico, o Treinamento de Força também apresenta um potencial clínico na prevenção/tratamento da obesidade.

Embora seus efeitos sobre a massa corporal total e a composição corporal possam ser modestos, tal prática tem sido associada com melhorias em fatores de risco cardiovascular na ausência de perda de peso significativa.

Há ainda benefícios relacionados ao perfil lipídico, gordura abdominal, função endotelial, melhora na sensibilidade à insulina, além dos marcadores inflamatórios e da capacidade funcional (Dias et al., 2015).

O envelhecimento é um processo dinâmico, progressivo e irreversível, caracterizado por manifestações variadas nos campos biológicos, psíquicos e sociais.

As alterações musculoesqueléticas são as principais responsáveis pela deterioração da mobilidade e capacidade funcional do idoso.

Isto se deve a redução da força e da massa muscular, que quando associadas podem aumentar o risco de quedas/fraturas e, consequentemente, a hipocinesia, facilitando assim, o surgimento ou agravamento de doenças crônico degenerativas.

A manutenção/melhora da capacidade funcional do idoso deve ser prioridade e objetivo central em qualquer prescrição.

Estudos sugerem que a força muscular é a principal capacidade biomotora relacionada a manutenção da capacidade funcional dos indivíduos.

Desta forma, um programa de Treinamento de ForçaF bem elaborado e supervisionado é fundamental para garantir a independência e retardar e/ou cessar os efeitos deletérios do envelhecimento.

De acordo com o novo posicionamento atual da National Strength and Conditioning Association (2019) sobre Treinamento de Força para Idosos, podemos destacar como benefícios da prática:

  • Aumento da força e potência muscular, da massa muscular (redução do processo de sarcopenia), da sua qualidade e da capacidade metabólica do músculo esquelético;
  • Redução da fragilidade, fraqueza muscular e suas consequências (como quedas e fraturas);
  • Redução da gordura visceral e abdominal;
  • Aumento da mobilidade, desempenho físico e equilíbrio;
  • Aumento da densidade óssea;
  • Melhora da saúde metabólica e sensibilidade à insulina;
  • Gerenciamento e redução de condições crônicas de saúde;
  • Aumento da independência, bem-estar e da qualidade de vida;
  • Melhora da realização das atividades diárias, das atividades psicológicas e cognitivas.

O pós parto pode ser um dos períodos mais gratificantes e, ao mesmo tempo, mais exaustivos da mulher, sendo a gestação um fator de risco importante para o desenvolvimento da obesidade e comorbidades associadas no puerpério.

Dessa forma, é extremamente importante que a mulher também mantenha o foco na sua saúde, enquanto cuida do bebê.

A prática de exercícios físicos, incluindo o Treinamento de Força, é considerada uma intervenção de grande valor para a manutenção e melhora da saúde, além do bem-estar materno/fetal, não só durante a gestação, mas também no pós parto (ACOG, 2015).

Entretanto, é necessário que o profissional tenha muito conhecimento e cautela durante a prescrição e supervisão.

Especialmente nessa fase, a mulher necessita reabilitar/reestruturar todo sistema osteomioarticular que foi sobrecarregado durante a gestação.

Muitas das alterações fisiológicas da gravidez persistem por pelo menos 4 a 6 semanas após o parto.

Assim, o exercício deve ser introduzido gradualmente e dependerá de vários fatores, incluindo o histórico de atividade física, assim como o tipo de parto e possíveis intercorrências.

Benefícios do Treinamento de Força no pós-parto (ACOG, 2015):

  • Auxilia a redução do peso corporal e na retenção de líquido;
  • Fortalecimento muscular;
  • Reestruturação da postura;
  • Melhora da composição corporal, importante coadjuvante no tratamento e prevenção da depressão pós-parto;
  • Alivia o estresse e as dores musculares;
  • Melhora o retorno venoso;
  • Reduz o risco cardiometabólico, entre outros.

Diabetes é uma síndrome do metabolismo de carboidratos, gorduras e proteínas, caracterizada por uma elevação da glicemia, a taxa de concentração da glicose plasmática (Guyton & Hall, 2017).

A doença está relacionada à diversas complicações agudas (hipoglicemia) e crônicas (doença vascular, neuropatia periférica, neuropatia autonômica, retinopatia diabética e a nefropatia).

A prática regular de exercícios físicos é recomendada como importante estratégia para o tratamento não farmacológico da diabetes do tipo 2. O TF é um importante aliado, não só para o controle glicêmico, mas também pelo fato da doença afetar negativamente a força, a potência e a massa muscular (Orlando et al., 2016).

Em resposta ao exercício físico, há um aumento da permeabilidade celular à glicose por 2 a 72 horas após término da sessão. Ambas as formas de exercício físico (aeróbio ou de força) atuam no controle glicêmico.

Os benefícios não se resumem aos efeitos agudos.

De forma crônica, os músculos esqueléticos aumentam sua resposta à insulina devido a um aumento da expressão e da atividade das proteínas envolvidas no processo de sinalização (Colberg et al., 2010).

Em suma, dentre os benefícios do TF para indivíduos portadores da diabetes tipo 2, destacam-se: melhor controle glicêmico, aumento da sensibilidade à insulina muscular e hepática, melhora da função das células Beta, e das proteínas relacionadas ao transporte de glicose no músculo (GLUT-4).

A combinação da prática regular de exercícios (aeróbios e TF) com a reeducação alimentar é essencial para atingir maiores benefícios (Colberg et al., 2010).

REFERÊNCIAS

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  • American College of Sports Medicine (ACSM). Position Stand: Exercise and Hypertension. Med Sci Sports Exerc. 2004; 36(3): 533-53.
  • American College of Sports Medicine (ACSM). Appropriate physical activity intervention strategies for weight loss and prevention of weight regain for adults. Med Sci Sports Exerc. 2009; 41(2): 459-71.
  • Colberg SR, et al. Exercise and type 2 diabetes: the American College of Sports Medicine and the American Diabetes Association: joint position statement. Diabetes Care. 2010; 33(12): e147-67.
  • Dias I, Farinatti P, De Souza MG, Manhanini DP, Balthazar E, Dantas DL, De Andrade Pinto EH, Bouskela E, Kraemer-Aguiar LG. Effects of Resistance Training on Obese Adolescents. Med Sci Sports Exerc. 2015; 47(12): 2636-44.
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  • Hall JE, Granger JP, do Carmo JM, da Silva AA, Dubinion J, George E, Hamza S, Speed J, Hall ME. Hypertension: physiology and pathophysiology. Compr Physiol. 2012; 2(4): 2393-442.
  • Mancini, Marcio C. Tratado de Obesidade. 2ª ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan LTDA, 2015.
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  • Peitz M, Behringer M, Granacher U. A systematic review on the effects of resistance and plyometric training on physical fitness in youth- What do comparative studies tell us? Plos One. 2018; 13(10): 1-44.
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  • Ouchi N. Adipocytokines in Cardiovascular and Metabolic Diseases. J Atheroscler Thromb. 2016 Jun 1;23(6):645-54.
  • Williams B, et al. 2018 ESC/ESH Guidelines for the management of arterial hypertension: The Task Force for the management of arterial hypertension of the European Society of Cardiology (ESC) and the European Society of Hypertension. European Heart Journal. Eur Heart J. 2018; 39(33): 3021-3104.