A prática do treinamento de força tem sido cada vez mais recomendada para crianças e adolescentes. Esse fato ganha mais força cada vez que importantes organizações publicam um novo posicionamento. Assim, a atualização elaborada pela Academia Americana de Pediatria (2020) vem apoiar e recomendar a utilização do treinamento força nos programas de educação física escolar, de condicionamento físico e prevenção de lesões para crianças e adolescentes, sendo atletas ou não-atletas.
Além dos ganhos de força, potência e resistência muscular localizada, o treinamento de força promove diversos benefícios para a referida população. Dentre eles podemos citar: melhora das habilidades motoras, desenvolvimento do aprendizado motor, redução de lesões, melhora na aptidão cardiovascular, composição corporal, densidade mineral óssea, perfis lipídicos, sensibilidade à insulina (jovens com sobrepeso) e melhora da saúde mental.
Também vale destacar a nova perspectiva que vem surgindo na literatura: adolescentes com baixos níveis de força possuem mais chances de se lesionar em atividades da vida diária e/ou esportes, quando comparado às chances de lesão durante a prática do treinamento de força. Logo, mais do que nunca, é fundamental a utilização deste tipo de treinamento com crianças e adolescentes objetivando além de ganhos, a criação de reservas de força, aptidão muscular, principalmente o hábito de se exercitar. Infelizmente, ainda temos alguns mitos e receios envolvendo a prática do treinamento de força com crianças e jovens. Entretanto, as evidências científicas não corroboram o senso comum.
Mitos vs. Evidências
Mito 1. Uma criança é incapaz de aumentar a força antes puberdade.
As crianças pré-púberes são capazes de ganhar força a partir do aumento do recrutamento neural das fibras musculares, e ganhos de força podem ser obtidos com baixas taxas de lesões, se os programas de treinamento forem supervisionados e executados com técnica adequada.
Mito 2. Meninos e meninas podem ficar “atrofiados” se praticarem treinamento de força.
Os ganhos de força em pré-púberes ocorrem por mecanismos neurais, e os ganhos em púberes podem promover o “crescimento” muscular (hipertrofia) pelo aumento dos hormônios pubertários.
Mito 3. O treinamento resistido pode diminuir o desempenho de jovens em atividades aeróbicas.
Melhorias no desempenho aeróbico foram demonstradas com o treinamento combinado (aeróbico e resistido), e tais programas não parecem prejudicar os ganhos de força crianças.
Mito 4. O treinamento resistido pode prejudicar o crescimento.
Programas bem estruturados e supervisionados não demonstraram ter efeito negativo sobre a saúde da cartilagem de crescimento, estatura e saúde cardiovascular na juventude.
Mito 5. As crianças estão mais fortes agora do que nunca.
É necessário criar reservas de força devido ao declínio da aptidão muscular na juventude moderna.
Mito 6. O teste de 1 RM não é seguro para os jovens.
O teste de 1 RM pode ser um método seguro para avaliar a força muscular em jovens, desde que seja aplicado e supervisionado por profissionais qualificados, e seguidas as diretrizes apropriadas.
Pontos importantes destacados pela Academia Americana de Pediatria (2020) sobre os benefícios e riscos do treinamento de força para crianças e adolescentes.
1. Resultados positivos relacionados aos ganhos de força na juventude continuam sendo reconhecidos pela literatura, incluindo melhorias na saúde, aptidão física, reabilitação de lesões, redução de lesões e aprendizado motor.
2. O treinamento resistido não se limita ao levantamento de pesos, mas inclui uma ampla variedade de movimentos com peso corporal que podem ser implementados para prevenir o declínio da aptidão muscular em crianças e adolescentes.
3. A evidências científicas embasam a ampla aceitação de que crianças e adolescentes podem ganhar força com treinamento resistido com baixas taxas de lesão se as atividades forem realizadas com técnica e supervisão apropriadas.
4. Os ganhos de força na infância são atribuídos principalmente à mecanismos neurais (aumento no recrutamento de neurônios motores), que permitem ganhos de força sem hipertrofia muscular.
5. É importante incorporar o treinamento de resistência em aulas de educação física escolar e programas de esporte juvenil para aumentar a força muscular, reduzir o risco de lesões por uso excessivo, e incentivar o interesse na prática de exercícios.
6. Certas situações de saúde exigem consulta com um médico especializado antes de começar um programa de treinamento de resistência.
Referências:
- Stricker PR, Faigenbaum AD, McCambridge TM; COUNCIL ON SPORTS MEDICINE AND FITNESS. Resistance Training for Children and Adolescents [published online ahead of print, 2020 May 26]. Pediatrics. 2020;e20201011. doi:10.1542/peds.2020-1011.
- Lloyd RS, Faigenbaum AD, Stone MH, et al. Position statement on youth resistance training: the 2014 International Consensus. Br J Sports Med. 2014;48(7):498‐505. doi:10.1136/bjsports-2013-092952
- Myer GD, Faigenbaum AD, Chu DA, et al. Integrative training for children and adolescents: techniques and practices for reducing sports-related injuries and enhancing athletic performance. Phys Sportsmed. 2011;39(1):74‐84. doi:10.3810/psm.2011.02.1854
- Faigenbaum AD. Youth Resistance Training: The Good, the Bad, and the Ugly—The Year That Was 2017. Pediatr Exerc Sci. 2018; doi: 10.1123/pes.2017-0290.
Texto elaborado por Ingrid Dias e Sarah Ramos
Pesquisadora | Professora | Palestrante
Doutoranda em Educação Física - EEFD/UFRJ