A menopausa é um marco do processo contínuo de envelhecimento, podendo se apresentar, de forma assintomática ou com sintomas que variam na diversidade e intensidade e caracterizam a síndrome climatérica ou síndrome do climatério – denominação dada ao conjunto de sinais e sintomas geralmente apresentados por mulheres nesse período. As principais manifestações clínicas são: vasomotores (fogachos e sudorese) atrofia urogenital, hipotrofia mamária, alteração do sistema tegumentar (pele e anexos), neurogênicas (irritabilidade e insônia), aumento do risco para doenças cardiovasculares (aterosclerose), câncer, desordens autoimunes e psicogênicas, alterações osteoarticulares (osteopenia/osteoporose), no metabolismo dos lipídeos como distribuição da gordura corporal e ponderal, alterações no metabolismo dos glicídeos como resistência à insulina e diabetes mellitus tipo 2.
De acordo com estimativas do IBGE, a população feminina brasileira totalizava mais de 98 milhões de mulheres, das quais 30 milhões encontravam-se entre 35 e 65 anos, o que corresponde a 32% das mulheres no Brasil na faixa etária em que ocorre o climatério. Pesquisas têm relacionado idade de ocorrência da menopausa e taxas de mortalidade. Mulheres com menor idade à menopausa apresentam maior taxa de mortalidade por causas gerais e por algumas causas específicas como DCV. Além da influência da menopausa sobre as taxas de mortalidade feminina, o período climatérico costuma se apresentar com uma variedade de sintomas que afetam a qualidade de vida da mulher, o que pode acarretar prejuízo pessoal e implicação social de grande relevância (30). Este período caracteriza-se por redução na produção hormonal, o que ocasiona alterações funcionais e morfológicas.
A importância da Força Muscular
Em 2017, o Prof. Dr. Claudio Mellibeu e colaboradores investigaram a associação entre a função muscular, composição corporal, glicemia e níveis de vitamina D em mulheres na pós-menopausa com diabetes mellitus tipo 2 (DMT2). As voluntárias foram submetidas à avaliações antropométricas, composição corporal, medidas da glicemia e vitamina D. Os testes físicos aplicados foram: força de preensão manual (handgrip), teste de ir e vir (time up and go), teste de sentar e levanta da cadeira, flexão do cotovelo e sentar e alcançar.
Em conclusão, os autores sugerem que a função muscular e a taxa metabólica basal podem sofrer efeitos negativos dos marcadores de gordura corporal na população estudada. Adicionalmente, a concentração sérica de glicose foi associada a diminuição da força e da capacidade funcional das voluntárias. Assim, mulheres no período pós-menopausa com DMT2 devem participar de programas com treinamento de força para preservar e/ou aumentar a força e a massa muscular.
Benefícios do Treinamento de Força
Em um ensaio clínico randomizado controlado, Berin e colaboradores (2019) investigaram o efeito de 15 semanas de treinamento de força sobre a frequência de fogachos noturnos de moderados à severos em mulheres na pós-menopausa. A intervenção com treinamento de força foi realizada três vezes por semana; o programa composto por oito exercícios realizados com oito a 12 repetições em duas séries. As cargas foram definidas individualmente a partir de testes de força máxima de oito repetições e aumentadas progressivamente ao longo da intervenção.
Em conclusão, os autores reportaram que um programa de treinamento de força realizado por 15 semanas diminuiu a frequência de fogachos noturnos de moderados à graves em mulheres na pós-menopausa; e poderia ser uma opção de tratamento eficaz e segura para aliviar sintomas vasomotores. É extremamente importante que mulheres na pós-menopausa, onde a redução da força muscular, da densidade mineral óssea e da taxa metabólica basal são aceleradas, participem regularmente de programas de treinamento de força. Além de alentecer e /ou cessar os desfechos supracitados, também pode melhorar outros fatores relacionados à saúde cardiometabólica.
Referências:
- BRASIL- MINISTÉRIO DA SAUDE. Manual de atenção à mulher no climatério/menopausa. Brasília; 2008.
- Valença CN, do Nascimento Filho JM, Germano RM. Mulher no climatério: reflexões sobre desejo sexual, beleza e feminilidade. Saúde e Sociedade. 2010;19(2):273-85.
- IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Percepção do Estado de Saúde, Estilo de Vida e Doenças Crônicas. Rio de Janeiro. 2013.
- Bentes CM, Costa PB, Resende M, et al. Association between muscle function and body composition, vitamin D status, and blood glucose in postmenopausal women with type 2 diabetes. Diabetes Metab Syndr. 2017;11 Suppl 2:S679-S684. doi:10.1016/j.dsx.2017.04.025.
- Berin E, Hammar M, Lindblom H, Lindh-Åstrand L, Rubér M, Spetz Holm AC. Resistance training for hot flushes in postmenopausal women: A randomised controlled trial. Maturitas. 2019;126:55-60. doi:10.1016/j.maturitas.2019.05.005.
Pesquisadora | Professora | Palestrante
Pesquisador e Professor Adjunto (DEFD/UFRRJ)
Endocrinologista, Professora e Pesquisadora em Saúde da Mulher - IFF/FIOCRUZ