De maneira geral, as alterações que acontecem no corpo da mulher visam promover condições para um desenvolvimento fetal adequado, de forma que este desenvolvimento esteja em equilíbrio com o organismo materno.
No entanto, algumas modificações, mesmo que fisiológicas, podem causar situações e sintomas incômodos.
A gestação pode ser dividida “didaticamente” em três períodos (trimestres).
Muitas modificações já são observadas nos primeiros meses, principalmente pela grande transformação hormonal, decorridas por fadiga, tonturas, enjoos, alterações de humor, sonolências, entre outros sintomas.
O segundo e terceiro períodos são marcados por mudanças anatômicas e biomecânicas significantes para o corpo da mulher, pois o crescimento do útero associado ao ganho de massa corporal altera o centro de gravidade da gestante.
O corpo da gestante muda dia a dia adaptando continuamente suas funções para garantir o desenvolvimento de um indivíduo independente. Ou seja, a gestação promove um “estado de hiperdinamismo” no organismo da mulher.
Neste período, o feto é completamente dependente da mãe. Assim, vários sistemas sofrem alterações essenciais para garantir a saúde materno-fetal.
Para apoiar as demandas fetais, o sistema cardiovascular sofre adaptações em sua estrutura e função, o que leva a uma considerável quantidade de estresse no coração materno.
Portanto, é imprescindível que o profissional de educação física conheça as alterações cardiovasculares específicas “de cada trimestre”, para garantir a segurança da gestante e do feto durante o exercício físico.
Aterações Anatômicas na Gestação
A gestação também é acompanhada por alterações anatômicas que impactam diretamente a capacidade funcional da gestante.
Neste período ocorrem mudanças em relação ao equilíbrio, coordenação e estabilidade.
A ocorrência de dor lombar e pélvica é considerada uma das principais síndromes advindas do desenvolvimento da gestação, atingindo mais de um terço das gestantes, principalmente a partir do 3º trimestre do período gestacional.
A prática de exercícios físicos de fortalecimento é apontada como fator de redução e prevenção das dores.
Durante os estágios finais da gravidez ocorre grande liberação de um hormônio chamado relaxina. Este hormônio é produzido pelo corpo lúteo e pela placenta.
Ele produz um amolecimento das articulações pélvicas e das suas cápsulas articulares, o que dá a flexibilidade necessária para o parto, pois provoca o remodelamento do tecido conjuntivo, o que diminui a união dos ossos da pelve e alarga o canal de passagem do feto.
Tem ação importante no útero, por distendê-lo à medida que o bebê cresce.
O nível de relaxina aumenta ao máximo antes do parto e depois cai rapidamente.
Com as articulações mais instáveis e flexíveis, a gestante deve ter um cuidado maior durante a prática dos exercícios.
Importante lembrar que além do cuidado na execução e amplitude dos exercícios, também devemos dar atenção aos riscos de torções nos tornozelos.
Benefícios do Exercício Físico Para Gestantes
A prática regular de exercícios físicos contribui para redução do tempo de trabalho de parto, de partos cesáreos e prematuros, menor número de aborto espontâneo e grande defesa contra depressão pós-parto.
Adicionalmente, a prática de exercícios também ajuda na prevenção do ganho de peso, do diabetes mellitus gestacional (DMG), da hipertensão arterial e pré-eclâmpsia, entre outras comorbidades cardiometabólicas.
A hipertensão arterial é a complicação clínica mais comum que ocorre durante a gestação.
As síndromes hipertensivas na gestação acarretam expressiva morbimortalidade tanto materna quanto fetal.
Para gestantes com hipertensão arterial crônica com controle pré-natal e pressórico adequados, a prática de exercícios pode ser indicada, desde que supervisionada e monitorada por profissionais de educação física especializados.
O DMG é definido como uma intolerância a carboidratos de gravidade variável, que se inicia durante a gestação atual e não preenche os critérios diagnósticos de diabetes.
A incidência de DMG tem aumentado em paralelo com o aumento do Diabetes mellitus tipo 2 e da obesidade na população.
O exercício físico se associa à prevenção do DMG e melhor controle glicêmico em todos os trimestres.
O atestado médico é imprescindível para que a gestante possa iniciar ou continuar um programa de exercícios.
Tão importante quanto a gestante não ficar parada é ter orientação e supervisão adequadas.
O ato de prescrever ou testar uma gestante acarreta a obrigação de um dever. Se o dever for violado e provocar dano à gestante existe negligência.
Referências
- Exercise and Sporting Activity During Pregnancy. Evidence-Based Guidelines. Editors: Santos-Rocha, Rita (Ed.) Springer, 2019.
- CORDERO Y, MOTTOLA MF, VARGAS J, ET AL. Exercise Is Associated with a Reduction in Gestational Diabetes Mellitus. Med Sci Sports Exerc. 2015 Jul;47(7):1328-33.
- MOTTOLA MF, et al. 2019 Canadian guideline for physical activity throughout pregnancy. Br J Sports Med. 2018.
- AZEVEDO, R.A.; MOTA, M.R.; SILVA, A.O.; DANTAS, R.A.E. Exercício físico durante a gestação: uma prática saudável e necessária. Universitas: Ciências da Saúde. v. 9, n. 2, p. 53-70, 2011.
- MONTENEGRO, L.P. Musculação: Abordagem teórica para a prescrição e recomendações para gestantes. Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício. São Paulo, v. 8, n. 47, p. 494-498, 2014.
Pesquisadora | Professora | Palestrante