A obesidade é uma doença crônica definida pelo excesso de gordura corporal, como resultado de um desequilíbrio energético influenciado por fatores cuja origem pode estar vinculada a características genéticas, nutricionais, endócrinas, hipotalâmicas, farmacológicas, ambientais e comportamentais (principalmente a inatividade física), que se inter-relacionam e se potencializam mutuamente (Godoy-Matos, 2005).
A doença tem assumido proporções epidêmicas em vários países no mundo, incluindo o Brasil, no qual também tem sido considerada um importante problema de saúde pública. Com o aumento da obesidade infantil houve um crescimento de alterações metabólicas, cardiovasculares, pulmonares, ortopédicas e psicológicas nesta faixa etária. As Sociedades Européia de Endocrinologia e de Pediatria sugerem a prática de exercícios aeróbios e resistidos, associados a reeducação alimentar, como estratégia primária para prevenção da obesidade nessa população.
A inclusão do treinamento de força como parte integrante de um programa de atividades físicas vem sendo recomendada por organizações de saúde como a American Heart Association. Embora essas recomendações sejam baseadas principalmente nos efeitos sobre a força muscular, estudos transversais têm demonstrado que a massa muscular está inversamente associada com todas as causas de mortalidade e prevalência da síndrome metabólica, independentemente dos níveis de aptidão cardiorrespiratória.
Evidências científicas
Em um estudo conduzido durante o meu doutorado (Dias et al., 2015) investigamos os efeitos de um programa de treinamento de força sobre a função endotelial, perfil hemodinâmico, metabólico e inflamatório, composição corporal e condicionamento físico de adolescentes obesos.
Quarenta e quatro adolescentes previamente sedentários foram divididos em dois grupos de acordo com o z-IMC: obesos (OB; z-IMC 2 a 3) e controles/eutróficos (CG; z-IMC -2 a 1).
Antes e após 12 semanas de treinamento em circuito periodizado e progressivo diversos parâmetros foram avaliados.
Os resultados demonstraram que o treinamento de força, além de reduzir alguns fatores de risco cardiometabólico, pode ser uma estratégia alternativa para aumentar a aderência dessa população à prática de exercícios físicos, considerando a limitação de alguns indivíduos obesos para a realização de exercícios aeróbios.
Em resumo, o programa composto exclusivamente por exercícios de força foi capaz de melhorar a função endotelial, parâmetros hemodinâmicos e metabólicos, composição corporal e aptidão física de adolescentes, independente de alterações na massa corporal.
Assim, reiteramos a ideia de que a musculação pode ser uma alternativa para a prevenção e controle dos fatores de risco relacionados à obesidade nessa população.
Em outro estudo (Farinatti et al., 2016) também conduzido durante o referido período investigamos os efeitos de um programa de musculação sobre a modulação autonômica de adolescentes obesos.
O programa teve as mesmas características do estudo supracitado.
Em conclusão, observamos que os adolescentes da nossa amostra já tinham disfunção autonômica cardíaca, apresentando menor nível de atividade autonômica, maior balnaço simpato-vagal e pressão arterial comparados aos controles de idade semelhante.
Este estudo demonstrou originalmente que um programa composto exclusivamente por exercícios de força foi capaz de atenuar a disfunção autonômica cardíaca nos adolescentes obesos, aumentando a atividade parassimpática e diminuindo o balanço simpato-vagal.
Além disso, distribuição de gordura corporal e níveis de pressão arterial também melhoraram em relação aos controles.
Esses resultados sugerem que intervenções com treinamento de força podem melhorar a modulação do sistema nervoso autônomo de adolescentes obesos.
Em revisão sistemática publicada durante o meu doutorado (Dias et al., 2014) chegamos aos seguintes direcionamentos:
Tanto os exercícios aeróbios quanto os resistidos vêm sendo apontados como elementos fundamentais em um programa de exercício direcionado ao controle do peso corporal. Contudo, para que os exercícios possam promover benefícios, sua prescrição deve ser realizada com bases metodológicas consistentes.
No caso dos indivíduos obesos ou com sobrepeso, as normas de prescrição do exercício não são muito diferentes em relação à utilizada em indivíduos eutróficos.
As diferenças recaem nos cuidados a serem adotados, visto as comorbidades associadas à obesidade.
Em geral, a prescrição do exercício envolve a manipulação de variáveis, incluindo-se a modalidade, a frequência semanal, o volume e a intensidade do esforço, bem como a forma de progressão do treinamento.
A estruturação das variáveis deve ser específica para cada indivíduo, levando-se em conta seu estado clínico e de treinamento.Além disso, deve-se considerar as respostas apresentadas ao longo do treinamento.
Seguindo esses passos, o exercício proporcionará efeitos positivos não somente no controle do peso corporal, mas também na promoção da saúde.
Referências
- Godoy-Matos AF. Síndrome Metabólica. 1ª ed. São Paulo: Editora Atheneu; 2005. 356 p.
- Dias I, Montenegro R, Monteiro W. Exercícios físicos como estratégia de prevenção e tratamento da obesidade: aspectos fisiológicos e metodológicos. Revista HUPE, Rio de Janeiro. 2014;13(1):70-79. doi:10.12957/rhupe.2014.9808
- Dias I, Farinatti P, De Souza MG, et al. Effects of Resistance Training on Obese Adolescents. Med Sci Sports Exerc. 2015;47(12):2636-2644. doi:10.1249/MSS.0000000000000705
- Farinatti P, Neto SR, Dias I, Cunha FA, Bouskela E, Kraemer-Aguiar LG. Short-Term Resistance Training Attenuates Cardiac Autonomic Dysfunction in Obese Adolescents. Pediatr Exerc Sci. 2016;28(3):374-380. doi:10.1123/pes.2015-0191
Pesquisadora | Professora | Palestrante