Treinamento de Força na Doença Hepática Gordurosa Não Alcoólica

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A doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA) vem ganhando destaque nos últimos, e hoje é considerada a hepatopatia crônica mais comum. Em geral assintomática, a DHGNA tem um amplo espectro que vai desde a esteatose até a cirrose e carcinoma hepatocelular. A doença está associada a demais patologias (obesidade, hipertensão arterial, dislipidemia, diabetes mellitus) cuja resistência à insulina é o fator comum. A resistência à insulina tem papel central na patogênese da DHGNA, ao ponto da doença ter sido considerada a manifestação hepática da síndrome metabólica. A obesidade é o principal fator de risco para a DHGNA. Entre os obesos a prevalência de esteatose variou de 64 a 97%. Além da obesidade, a adiposidade central avaliada através da relação da circunferência abdominal e circunferência do quadril é um fator independente para a DHGNA. O aumento da prevalência da obesidade, diabetes e outras condições associadas à síndrome metabólica serão responsáveis por um número crescente de indivíduos com risco de desenvolver doença hepática avançada nas próximas décadas.

Benefícios do Treinamento de Força

O exercício físico é um componente importante do tratamento para DHGNA como recomendado pelo posicionamento da American Gastroenterological Association e pela Associação Americana para o Estudo de Doenças do Fígado. Essas recomendações baseiam-se na relação da DHGNA com a obesidade e a resistência à insulina. A capacidade aeróbia é considerada um preditor independente de mortalidade. O treinamento de força é conhecido como uma modalidade efetiva para aumentar a capacidade funcional do sistema neuromuscular. Dependendo da especificidade do programa pode aumentar a força, a hipertrofia, a potência, a resistência muscular localizada, o equilíbrio, a coordenação motora, entre outros. Os benefícios adquiridos na função musculoesquelética sustentam a manutenção da capacidade funcional e da qualidade de vida. Realizar as atividades da vida diária com maior desempenho é uma forma de minimizar o processo de declínio funcional e prevenir doenças crônico degenerativas oriundas do sedentarismo. Atualmente, o treinamento de força exerce um papel fundamental não só no condicionamento físico mas também na saúde cardiometabólica.

Evidências científicas

As Associações Europeias para o Estudo do Fígado, do Diabetes e da Obesidade recomendam a prática do treinamento de força para portadores da DHGNA. Em dois estudos randomizados que compararam o impacto do treinamento aeróbio e do treinamento de força na DHGNA, os autores não observaram diferenças significativas entre as duas modalidades em relação às melhorias na lesão hepática ou triglicerídeos intra-hepáticos (Bacchi et al., 2013; Shamsoddini et al., 2015). Hallsworth et al. (2011) relataram pela primeira vez que o treinamento de força melhorava especificamente a DHGNA independente da mudança de peso corporal. Neste estudo, os autores demonstraram que oito semanas de treinamento de força promoveram uma redução de 13% nos níveis de triglicerídeos intra-hepáticos. Bacchi et al. (2013) realizaram um ensaio clínico randomizado comparando os efeitos do treinamento aeróbio e do treinamento de força sobre os níveis de triglicerídeos intra-hepáticos em pacientes com diabetes tipo 2 + DHGNA, e relataram uma redução semelhante em ambos os grupos. A DHGNA regrediu de forma semelhante em cerca de um quarto dos pacientes em ambos os grupos.

Uma revisão sistemática comparando o treinamento aeróbio ao treinamento de força mostrou melhorias semelhantes na DHGNA (Hashida et al., 2017). Kwak et al. (2018) reportam que as duas modalidades parecem ter mecanismos diferentes para melhorar a doença. O treinamento aeróbio melhora a DHGNA ativando a lipólise em vários tecidos, regulando positivamente a proteína-1 desacopladora e as vias do receptor γ ativado pelo proliferador de peroxissoma e alterando os níveis de adipocina. Já o treinamento de força pode melhorar a DHGNA pela hipertrofia das fibras musculares do tipo II, alterando os níveis de miocinas e ativando o transportador de glicose 4, proteína quinase ativada por AMP e caveolinas (Hashida et al., 2017). Portanto, a melhor estratégia não-farmacológica para a referida população é a combinação dos treinamentos (aeróbio + força) com a reeducação alimentar.

Referências:

  • Bacchi E, Negri C, Targher G, et al. Both resistance training and aerobic training reduce hepatic fat content in type 2 diabetic subjects with nonalcoholic fatty liver disease (the RAED2 Randomized Trial). Hepatology. 2013;58(4):1287-1295. doi:10.1002/hep.26393.
    https://aasldpubs.onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1002/hep.26393
  • Shamsoddini A, Sobhani V, Ghamar Chehreh ME, Alavian SM, Zaree A. Effect of Aerobic and Resistance Exercise Training on Liver Enzymes and Hepatic Fat in Iranian Men With Nonalcoholic Fatty Liver Disease. Hepat Mon. 2015;15(10):e31434. Published 2015 Oct 10. doi:10.5812/hepatmon.31434. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4644631/pdf/hepatmon-15-10-31434.pdf
  • Hallsworth K, Fattakhova G, Hollingsworth KG, et al. Resistance exercise reduces liver fat and its mediators in non-alcoholic fatty liver disease independent of weight loss. Gut. 2011;60(9):1278-1283. doi:10.1136/gut.2011.242073.
    https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3152868/pdf/gutjnl242073.pdf
  • Katsagoni CN, Georgoulis M, Papatheodoridis GV, Panagiotakos DB, Kontogianni MD. Effects of lifestyle interventions on clinical characteristics of patients with non-alcoholic fatty liver disease: A meta-analysis. Metabolism. 2017;68:119-132. doi:10.1016/j.metabol.2016.12.006.
    https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/28183444/
  • Hashida R, Kawaguchi T, Bekki M, et al. Aerobic vs. resistance exercise in non-alcoholic fatty liver disease: A systematic review. J Hepatol. 2017;66(1):142-152. doi:10.1016/j.jhep.2016.08.023. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/27639843/
    Kwak MS, Kim D. Non-alcoholic fatty liver disease and lifestyle modifications, focusing on physical activity. Korean J Intern Med. 2018;33(1):64-74. doi:10.3904/kjim.2017.343.
    https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5768549/


 
Ingrid Dias
Ingrid Dias

Pesquisadora | Professora | Palestrante

Profa. Me. Carolina Araujo
Profa. Me. Carolina Araujo

Mestre em Educação Física – UFRJ | Especialista em Atividade Física e Saúde – UCAM

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